Curitiba

Faca na carne

Artista trocou de profissão, mas continua ganhando a vida com as facas. Ficou curioso pra saber o que ele fazia antes? Boa leitura!

Pablo Henrique de Oliveira Paula, 25 anos, só mudou um pouco o jeito de manusear as facas. Ainda continua cortando “carne” de vez em quando (a sua própria, em pequenos acidentes), mas não diariamente e em quantidade como antigamente. Ele trocou o trabalho de açougueiro pelo de malabares, jogando facas enormes para cima nos semáforos de Curitiba. Ganha bem menos, mas está mais feliz assim, sem patrão e horário fixo de trabalho.

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selo-vidaO artista conta que iniciou na arte circense há dois anos. Saiu do emprego de açougueiro e foi morar numa praia. Passou a viver como vendedor ambulante, oferecendo balas e paçocas nas ruas. “Mas aí eu vi um pessoal no sinal fazendo malabares e pensei: eu posso fazer isso”, diz Pablo, que começou manuseando bolinhas. “Mas não tinha muita graça. Um mês depois eu comprei as facas e comecei a treinar”, diz ele, que ganha mais com as facas do que com as bolinhas. E não fez nenhum curso de arte circense. Aprendeu sozinho, observando e treinando.

Depende do humor

Ele diz que o “salário” dele depende de qual época do mês estão. Luciana Michalovski, 27 anos, namorada e “tesoureira” de Pablo, como ele mesmo a descreve, conta que segundas-feiras são dias ruins para isso. “O pessoal está muito mal humorado nas segundas. As contribuições começam a melhorar lá por quarta. Na sexta, sábado e domingo são os melhores dias. Até comida a gente ganha”, diz ela, que tinha um emprego de auxiliar de sushi, mas andava estressada demais e saiu do emprego. Sente-se mais feliz agora com o namorado, nos sinais vermelhos.

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Pablo diz que os finais do dia, quando as pessoas estão voltando para casa, são os melhores momentos para ganhar um troco a mais. O casal também ganha mais dinheiro nos dias que saem os salários dos trabalhadores, o dia do vale e quando tem sol. Dia de chuva, é melhor não insistir. Não dá pra ganhar quase nada.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Jovens e crianças

E os jovens, conta o casal, são os melhores “contribuintes”. As pessoas com mais idade ficam espantadas e dão orientações a Pablo, para ele se cuidar, para não se machucar, já que ele empina a ponta de um dos facões (que não tem fio) no peito, ou às vezes os derruba no chão, perto ao corpo, por causa do vento, que atrapalha as manobras.

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“As pessoas ficam assustadas assistindo. Mas depois abrem um sorriso, elogiam. As crianças também nos ajudam a ganhar um troco a mais. Quando os pais olham o rosto dos filhos sorrindo no banco de trás não aguentam. Abrem a carteira mesmo”, conta Luciana. “E tem muita gente que vem falando em espanhol conosco, pensando que somos gringos. Pois tem muitos destes artistas que fazem malabares nos semáforos que são argentinos”, explica Pablo.

Nem tudo são flores

O casal não tem residência fixa e vive da arte de Pablo, que veio da cidade de Sapiranga (RS). Quando o dinheiro dá, dormem em algum hotelzinho. Quando não dá, dormem na rua. “Quando se é solteiro, dá pra se virar assim. Mas em casal, tudo é mais caro. O quarto de hotel é mais caro, a comida é em dobro”, diz Luciana. Ela e ele pretendem arranjar emprego fixo em Curitiba, para que eles possam se estabelecer aqui e se sustentar melhor, fazendo apenas um extra com a arte de Pablo.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Sobre o autor

Giselle Ulbrich

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