Curitiba

Fé na morada

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Mesmo com 865 novas residências entregues neste ano, fila da Cohab ainda é grande em Curitiba e região

Já diz o ditado: “quem não tem casa sua, anda sempre na rua”. Além de caro, morar em um lugar que se possa chamar de seu está difícil e, na falta da casa própria, cada um faz o que pode. Enquanto a maioria junta economias para pagar aluguel, uma boa parte daqueles que não têm condições de gastar para morar de maneira regular acabam recorrendo às invasões, botando em risco a própria segurança e da família.

Apesar da tímida queda no déficit habitacional registrada em Curitiba nos últimos anos, estamos ainda bem longe do ideal. Na semana em que se comemorou o Dia da Habitação no Estado, (instituído pela lei Lei 10.357 – 14 de Julho de 1993), a Tribuna do Paraná foi atrás para saber a quantas anda a questão habitacional na nossa cidade.

Dezembro de 2017. Em uma manhã ensolarada no bairro Cachoeira, nossa equipe de reportagem acompanhava a expectativa de algumas famílias contempladas pela Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), às vésperas de ocuparem as novas casas do Residencial Moradias Maringá I, na Rua David Bodziak. Suspensas por quase três anos e depois de muita reclamação, as obras finalmente eram concluídas e, as chaves, entregues aos novos proprietários. Ao todo, quase 40 famílias deixavam áreas de risco para morarem melhor, de forma regular e mais segura.

Cinco meses se passaram e a pequena vila de casas, aparentemente, vai bem. Para a aposentada, Zilá dos Santos, uma das contempladas em dezembro, a espera pela propriedade valeu a pena. “Sair da invasão foi uma vitória. Tive que esperar quase 10 anos e foi muito difícil mas finalmente consegui. Sei que esse lugar é meu e me sinto bem morando aqui”, afirma.

E não é só no Cachoeira que isso aconteceu. Segundo a Cohab, somando todas as entregas feitas em bairros como Cidade Industrial, Sítio Cercado, Tatuquara, Cajuru e municípios da Região Metropolitana de Curitiba, o número de residências chega a 865 desde janeiro do ano passado até agora. Ainda de acordo com a companhia, no mesmo período, dois mil títulos de propriedade foram entregues a famílias que não tinham o documento. Isso significa que não foi só quem ganhou casa nova que saiu da irregularidade.

“Sair da invasão foi uma vitória. Tive que esperar quase 10 anos e foi muito difícil, mas finalmente consegui”, diz Zilá. Foto: Felipe Rosa
“Sair da invasão foi uma vitória. Tive que esperar quase 10 anos e foi muito difícil, mas finalmente consegui”, diz Zilá. Foto: Felipe Rosa

Irregulares

Quem se depara com a última divulgação oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a respeito do número de residências irregulares em Curitiba pode até se assustar. Ao todo, eram 69.754 lares improvisados na capital, em 2015. Mas acredite, já foi pior. De acordo com a Fundação João Pinheiro ligada ao instituto o número de cidadãos sem moradia adequada (também chamado Déficit Habitacional), já chegou a 83.954, em 2013.

Isso significa que, há três anos, 6% das habitações da cidade eram inapropriadas para morar. E esse número diminuiu ainda mais. Hoje, segundo a Cohab, 36 mil domicílios estão em situação irregular em Curitiba. Bom. Mas cedo para comemorar, já que muita gente ainda sofre sem ter onde morar.

É o caso de Eizelinda Maria dos Santos, 63. Locatária de um pequeno apartamento no bairro Sítio Cercado, a aposentada espera há 9 anos na fila da Cohab. Sem esperança de ser chamada tão logo, ela se queixa dos gastos com aluguel. “Pra mim R$ 600 é muito. Sinto que estou jogando esse valor, todo o mês, pelo ralo. Eu já podia estar na minha casa, investindo esse dinheiro em melhorias e deixando tudo do jeito que sempre sonhei. Começo a pensar que isso nunca vai acontecer”, lamenta.

Alta procura

Eizelinda não está sozinha. De acordo com a Cohab, 48 mil pessoas estão inscritas no programa e a previsão é de que entre o próximo semestre e início de 2019, 865 moradias sejam entregues nos bairros Cajuru, Tatuquara, Santa Cândida, Cachoeira, Parolin, Cidade Industrial, Prado Velho e nos municípios de Fazenda Rio Grande, Colombo, Campo Largo e Araucária. Ou seja, a oferta ainda é bem menor do que a procura.

Exercício de paciência

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Mutuários no Paraná, Luis Alberto Copetti, a longa fila da Cohab resulta do baixo valor dos imóveis que são subsidiados pelo governo, somado à baixa renda da população que procura pelas moradias. “Os valores e condições de pagamento da Cohab são ideais para a população de baixa renda que não têm como comprar imóveis no mercado imobiliário comum. Para se ter uma ideia, já houve lotes de imóveis vendidos a R$ 70 mil no bairro Sítio Cercado. Financiando, as parcelas saíam por R$ 250. O preço é atrativo e a população acaba procurando mais”, afirma.

Para Copetti, antes de reclamar da fila, o melhor remédio para quem está esperando ainda é a paciência, já que no setor privado acontece o contrário: tem muito imóvel (e caro), pra pouca gente. “Por conta da crise imobiliária, que acontece desde 2009, quem vende está jogando os preços lá em cima. Do outro lado, ninguém está procurando imóveis agora. Este, definitivamente, não é o melhor momento para comprar. Não tem jeito, quem quer muito uma moradia e conseguiu se inscrever no programa deve aguardar com paciência”, afirma.

Alternativa

Uma opção para quem não tem paciência de esperar a fila da Cohab andar são os imóveis que se enquadram no programa ‘Minha casa, minha vida‘, do Governo Federal. O subsídio pode representar uma grande vantagem na hora de financiar o imóvel junto à Caixa. De olho no público que precisa de uma moradia “barata”, construtoras têm se especializado neste tipo de imóvel. É o caso da Lyx Engenharia.

“O mercado do Minha Casa, Minha Vida está muito aquecido. Temos vários lançamentos, com empreendimentos em Campo Largo, Almirante Tamandaré e Araucária, e preços a partir de R$ 134 mil por apartamento”, explica Nikita Miranda de Campos, gerente de marketing da empresa.

Diferente do que a maioria imagina, não se tratam de apartamentos simples, sem nenhum benefício. A construtora se destaca por construir os chamados “condomínios clube”, tudo ao alcance de um público com renda mais baixa. “Nosso foco são pessoas que trabalham o dia todo. Por isso oferecemos espaço com academia, playground, sala de jogos, petplay, piscina e quadras esportivas”, conclui.

Como entrar na lista da Cohab

Requisitos:
– Ser comprovadamente residente em Curitiba ou Região Metropolitana;
– Possuir renda familiar compatível com o imóvel ofertado;
– Não possuir restrições cadastrais (SCPC, SERASA, CADIN, IR, etc);
– Não possuir imóvel próprio no território nacional;
– Não ser e nem ter sido mutuário da COHAB

1- Inscrição On-Line

A inscrição online é um cadastro prévio, no qual o interessado em se inscrever na fila da Cohab encaminha seus dados e documentos para análise. A inscrição somente é efetivada se forem cumpridos os requisitos exigidos pela Companhia.

Todo o processo é feito por meio virtual. Assim, antes de iniciar o procedimento é preciso possuir uma conta de e-mail válida e um equipamento (celular, câmera fotográfica, tablet) que gere arquivos individuais em formato JPG, PNG, BMP, TIFF ou PDF com a imagem legível dos documentos necessários.
O serviço de está disponível no link www.cohabct.com.br/PreInscricao.

2- Inscrição Presencial

O interessado deverá agendar atendimento por meio do Alô Cohab, nos telefones 0800 413233 ou 3221-8133, que funcionam de segunda a sexta-feira, das 9 às 15 h. No dia e horário agendados, deve-se comparecer à agência de atendimento indicada pelo Alô Cohab, levando os seguintes documentos:

– Carteira de Identidade, se casado (a) ou com união estável, do casal.
– CPF, se casado (a) ou com união estável, do casal.
– Comprovante de rendimentos do último mês, se casado (a) ou com união estável, do casal.
– Comprovante de residência com CEP atualizado em nome do pretendente à inscrição.
– Carteira profissional com PIS/PASEP, se casado (a) ou com união estável, do casal (se possuir).
– Certidão de Nascimento ou carteira de identidade dos filhos e enteados menores de 18 anos.
– Carteira de Identidade e CPF de pessoa com deficiência maior de 18 anos (filho (a) ou dependente).
– Contrato de locação ou último recibo de pagamento de aluguel, quando residir em imóvel alugado.

Atenção:
– Quem é casado, mesmo em união informal, deve levar os documentos do cônjuge ou companheiro.
– Quem não tem vínculo empregatício e carteira assinada apenas declara o rendimento e se inscreve como autônomo.

Não é necessário apresentar cópia dos documentos. Basta os originais, que são devolvidos ao final do cadastramento. A inscrição tem validade de um ano. Caso ela não seja atualizada depois de 12 meses, será automaticamente cancelada. A data de renovação é informada no cabeçalho do comprovante de inscrição e deve ser observada para que o cadastro continue ativo.

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Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

(41) 9683-9504