CIC

Triste rotina

Escrito por Giselle Ulbrich

Toda vez que chove muito, moradores da Cidade Industrial vivem dias de caos

A segunda-feira foi de tristeza e faxina na Cidade Industrial de Curitiba. As famílias atingidas pela enchente de sábado (3) tiraram o dia pra limpar as casas, lavar as roupas, colocar objetos para secar e tentar recuperar algumas coisas molhadas pela água suja. Móveis, eletrodomésticos e comida, porém, foi quase tudo perdido.

A auxiliar de limpeza Bruna dos Santos, 28 anos, tentou recuperar o sofá, que ficou inteiro mergulhado na água suja. Ela e mais dois familiares tentaram desinfetar e lavar o móvel com produtos químicos e mangueira de alta pressão. Ainda contaram com a ajuda do sol forte que fez na tarde de ontem. Mas vai demorar vários dias pra ficar realmente enxuto. “Por fora parece que está limpo. Não sei por dentro da espuma como está. Mas decidimos tentar. O sofá era novinho, de boa qualidade, comprado há pouco tempo”, lamentou Bruna.

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Um familiar de Bruna, o ajudante de caminhão Jair Ferreira, lamentava a perda de três carros da família, que mora num sobrado em frente ao valetão que transbordou sábado. Um dos carros, um Córdoba, ele tentou levar para cima da ponte, onde era o local mais alto ali perto.

“Mas a água subiu por cima da ponte e inundou o carro. Quando vi aquela correnteza, na altura do retrovisor, já não dava mais chegar perto. Agora estou desmontando tudo pra limpar por dentro, tirar a lama do motor e levar pro mecânico. Acho que vai pelo menos uns 3 ou 4 mil pra consertar cada carro, mecânica e elétrica”, lamentou ele. O outro carro da família, que ficou estacionado na frente do sobrado, ficou completamente submerso.

Bebê

Nicole Cristine, 16 anos, estava lavando as roupinhas da sua afilhada, de apenas cinco dias de vida. “Ela estava com apenas três dias no sábado. Chegou em casa lá por meio dia e à noite aconteceu isso. A mãe saiu no meio da chuva com ela no colo, desesperada procurando um lugar alto”, contou a adolescente.

Já o motoboy Valmir José, 60 anos, estava revoltado. Na visão dele, a Sanepar e a Copel poderiam dar uma “anistia” de dois meses, sem cobrar água e luz, para que os moradores possam se recuperar deste primeiro impacto da enchente, já que todos estão precisando gastar bastante água e luz para limpar toda a sujeira. “Eu tenho condições e hoje comprei alguns móveis novos. Mas tem gente aqui que não tem condição nenhuma”, analisa ele. “A gente fica olhando esse monte de entulho, vai dando tristeza de ver as nossas coisas no meio da rua”, completou.

Lama

Equipes da prefeitura trabalharam desde cedo pelas ruas, com caminhões, recolhendo os entulhos tirados das casas. Apesar de trabalharem o dia todo, os funcionários não conseguiram dar conta de tudo e o trabalho deve continuar nesta terça-feira.

Equipes da Defesa Civil também trabalhavam com caminhões tanque, limpando a lama que ficou no meio da rua na Vila Barigui 1. Ali, o CMEI Barigui 1 ficou fechado e era possível ver centenas de objetos e móveis infantis cheios de lama, no gramado, sendo higienizados pelas auxiliares de limpeza da escola.

Voluntários também foram importantes para matar a fome de muitas famílias locais. Levaram comidas e lanches às vilas, pois muita gente não tinha nada de comida em casa. Tudo perdido na água suja.

Ajude!

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

A Fundação de Ação Social (FAS) já fez algumas doações às famílias, com recursos próprios que possuía. Mas precisa de ajuda da população pra conseguir atender toda a demanda. Neste primeiro momento, mais emergencial, a FAS está arrecadando água potável (para beber), produtos de limpeza, colchões, roupas de cama e alimentos não perecíveis.

As doações podem ser entregues na sede da FAS, na Rua Eduardo Sprada, 4.520, no Campo Comprido, ou nas Ruas da Cidadania de Curitiba. A Tribuna também está recebendo doações aqui na sede do jornal, na Avenida Victor Ferreira do Amaral, 306, Tarumã, em frente à Churrascaria Recanto Gaúcho. Para mais informações, você pode ligar para o (41) 99683-9504 e falar com o pessoal da redação. As doações podem ser feitas também na sede do Provopar, na Rua Hermes Fontes, 315, no Batel.

Quem quiser doar móveis, em boas condições de uso, também é possível. Mas é importante ligar ao telefone 156, da prefeitura, para obter orientações de como proceder.

Placas perdidas

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Na Vila Uberlândia, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, a enchente de sábado à noite causou um problema “curioso”. Vários carros que tentaram passar no alagamento, na esquina das Ruas Baldur Magnus Gruba e João Surian, perderam as placas. Pela manhã, quando a água secou, as identificações foram encontradas no asfalto.

Todas foram recolhidas pela Associação de Moradores e Amigos das Vilas Maria e Uberlândia. ‘Tinhamos 20 placas aqui hoje de manhã. 10 já foram entregues aos proprietários. A gente pede que eles venham até aqui com o veículo e nos mostrem o documento do automóvel, pra devolvermos a placa. Ali naquela esquina, qualquer chuva que dá, a água fica represada. Mas sábado, como a enchente foi grande, a água subiu mais e muita gente perdeu a placa‘, disse Anderson de Lima, 31 anos, 1.º secretário da Associação.

Na região da Vila Uberlândia, várias famílias foram afetadas pela chuva. Os representantes passaram pessoalmente nas casas e constataram 160 famílias afetadas. Várias delas receberam ajuda da própria associação, de roupas e cestas básicas.

Comporta é boato

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Muitas famílias que sofreram com a enchente acreditavam que a prefeitura havia mandado abrir comportas existentes no lago do Parque Barigui, para que os bairros centrais e “de rico” não alagassem. A prefeitura afirmou, no domingo, que essa história é uma lenda e sempre volta à boca do povo quando ocorrem enchentes. De fato, existem duas pequenas comportas, no canto de uma das pontes do Parque Barigui.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o engenheiro Reinaldo Pilotto, superintendente de obras e serviços da Secretaria do Meio Ambiente, afirmou que a comporta só é operada em dias secos. “Isso é feito com o objetivo de baixar o nível do lago para que, durante grandes chuvas, tenhamos mais espaço para encher o parque de água, já que esse é o seu objetivo”, informou. Ele garante que ninguém mexeu no equipamento durante o último fim de semana.

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