Campo Magro

Longa espera

Famílias que vivem em região precária aguardam casas da Cohapar, mas até agora nada

Para algumas famílias de Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba, o sonho de se ter uma moradia digna parece cada dia mais distante. A agente comunitária de saúde Márcia Alves da Silva, 34 anos, se inscreveu em um projeto da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), empresa que executa os programas habitacionais do Governo do Estado, em 2007. Até hoje, no entanto, ela aguarda a construção da sua tão esperada casa, na Avenida Norte Sul, no bairro Jardim Boa Vista.

A obra começou em 2013 e deveria ter ficado pronta em abril de 2017, mas até agora nada de ficar pronta. Além dela, outras famílias seriam beneficiadas pelas onze casas que caíram no esquecimento do poder público. Antigamente, Márcia morava em uma zona de risco na Rua Espírito Santo, no bairro Jardim Cecília, mas saiu do local por conta de uma recomendação da Defesa Civil.

Como a casa da Cohapar não estava pronta ainda e não havia para onde ela ir, precisou alugar um outro imóvel. Com o atraso da obra vieram as contas inesperadas, o aluguel que parece não ter fim, a expectativa e, inevitavelmente, a decepção, pois ela nunca recebeu uma resposta digna do órgão.

Demora

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

“Faz dois anos e oito meses que eu pago aluguel e quando eu saí da zona de risco, a previsão era entregar (a casa) em um ano. Não tem ninguém trabalhando por aqui há um ano. A gente fica na expectativa porque faz 11 anos que eu estou esperando por uma casa. Quando começou a obra, a gente ficou contente, mas não teve continuidade. Continuo pagando aluguel sem ter condições”, lamentou Márcia.

Andando pela avenida, é possível ver o abandono das construções que foram devoradas pelo esquecimento. Dentro do imóvel há roupas abandonadas, colchões e até mesmo animais mortos. Alguns moradores em situação de rua aproveitam para passar dias no local consumindo drogas, segundo testemunhas.

No total são onze famílias vivendo o mesmo cenário de expectativa pelas casas novas. “Nos cadastramos nesse projeto há mais de dez anos e por isso não podemos investir nas casas que vivemos hoje, porque em breve seremos realocados. Minha casa está sem condição de moradia porque a ordem é não mexer, já que a nova casa ficará pronta. Mas quando?”, questionou Silvia Moura, 51 anos, agente Comunitária de Saúde.

Precário

Silvia, Márcia e Diumira. Foto: Felipe Rosa
Silvia, Márcia e Diumira. Foto: Felipe Rosa

A maior parte dos moradores que espera pelas casas vive na mesma região precária na qual Márcia morava, próximo a Rua Espirito Santo, no Jardim Cecília, em Campo Magro. Para acessar algumas das casas é preciso descer uma escadaria construída de forma improvisada. Ainda do alto, é possível ver que algumas das construções ainda permanecem em pé, mas com as chuvas recentes, as estruturas ficam cada vez mais frágeis.

Para Diumira Aparecida dos Santos, 52 anos, a realidade é desesperadora. A mãe dela, conhecida como Dona Nália, tem 80 anos e é cadeirante. Retirá-la de casa é praticamente impossível. Quando precisa ir ao médico, o jeito é levá-la em seus braços. Além da falta de acessibilidade, as paredes parecem que vão desmoronar a qualquer momento.

“A gente não quer mordomia, a gente quer o mínimo. Minha parede hoje só está em pé por conta de um guarda roupa que eu tenho. Não tem como pregar de um lado, porque cai do outro. Minha mãe não anda e não tem como eu andar com ela dentro de casa. Nunca encontrei um responsável pela obra. Eu continuo esperando pela casa que não fica pronta nunca. É triste demais”.

No caso da moradora Terezinha Antunes, 57 anos, além da falta de estrutura, o esgoto a céu aberto quase toma conta da casa. “Não podemos mais viver aqui, mas as casas nunca ficam prontas e essa espera não parece ter fim. É uma tristeza”, desabafou.

Dona Nália, mãe de Diumira, quase não pode sair de casa. Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

Abandono

Foto: Felipe Rosa
Foto: Felipe Rosa

A Tribuna do Paraná entrou em contato com a Cohapar para entender o motivo dos atrasos. O órgão informou que a obra começou logo depois da assinatura dos contratos, em 2013. O contrato de licitação com a empresa possuía vigência até abril de 2017, um mês antes do abandono da construtora responsável, mas, por conta da desistência, um novo processo licitatório de R$515 mil terá que ser feito até o fim de março.

A promessa é que logo depois da escolha da nova empreiteira a obra termine em até quatro meses. A aprovação do remanejamento de recursos depende também da Caixa Econômica Federal, órgão responsável pela gestão dos recursos.

A Prefeitura de Campo Magro, para saber seu posicionamento também questionou a Cohapar sobre a demora, mas informou que há uma parceria entre os órgãos e demonstrou confiança na solução do problema. “A prefeitura espera que esta situação seja resolvida o quanto antes e reforça a parceria com a Cohapar”.

A nota da prefeitura cita ainda uma reunião, feita em janeiro do ano passado, que cobrava um novo encontro específico para tratar de assuntos relacionados a habitação, regularização fundiária e as devidas parcerias com a Cohapar. Apesar disso, não houve muitos detalhes sobre a obra em questão, no Jardim Boa Vista.

Sobre o autor

Luiza Luersen

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