Almirante Tamandaré RMC

Torneiras secas

Cinco dias sem uma gota de água em casa! Essa é a situação enfrentada por moradores do Jardim Marrocos, bairro Lamenha Grande, em Almirante Tamandaré. O município da Região Metropolitana de Curitiba está sem o abastecimento da Sanepar desde o último domingo (16).

Sem água, não tem banho. Não tem louça lavada. Não tem como cozinhar. “A gente tá comendo pão e tomando café o dia todo, todo o dia. Não posso preparar nada no fogão”, diz a aposentada Vera Lúcia, que improvisou uma caixa de água nos fundos do terreno – abastecida pelas chuvas – como reserva. Um garrafão de 20 litros, já no fim e separado em um canto da cozinha, é a única água potável que resta para a família.

Na casa, Vera divide espaço com a filha e o neto. Para não ficarem sem banho, os dois foram para a casa de um parente em Curitiba. A aposentada ficou e precisa se virar com a bacia. “É o jeito que a gente dá para não ficar suja”, lamenta.

A situação se estende a praticamente todos os moradores da Rua João Wicki e arredores. Ao ver o carro dos Caçadores de Notícias na tarde de ontem, o povo pediu ajuda. “Não sabemos mais o que fazer, estamos revoltadas”, esbraveja uma senhora.

Para a dona de casa Noêmia França, a situação é um ato de desrespeito. “Se você não paga a conta, eles cortam o serviço já no segundo mês. Pagando em dia, é isso que ganhamos. Agora, a gente, desesperada, tem que manter os filhos em casa, porque não podem tomar banho e porque na escola também não tem água. Quando a gente liga para a Sanepar, a gravação sempre dá um prazo diferente para que o abastecimento volte”.

“Você liga e ouve deles que a água voltará ao meio-dia. Todo mundo se apronta e nada. Ligamos de volta e o prazo é alterado de novo. Já mudaram a informação umas cinco vezes”, lamenta a moradora Lúcia Franco Marques.

Mãe de três filhos, de 5, 10 e 11 anos, Márcia Aparecida está improvisando desde domingo. “Estou pegando água da chuva para fazer o mínimo de coisas dentro de casa. A gente não tem nem o que beber direito. Estamos dependendo do balde. A comida de manhã, tarde e noite tem sido pão com ovo e café com leite”.

Alguns moradores mais revoltados ameaçam invadir o reservatório da Sanepar, que fica a poucas quadras.

Cano na Rodovia dos Minérios estourou três vezes em duas semanas. Foto: Lineu Filho.
Cano na Rodovia dos Minérios estourou três vezes em duas semanas. Foto: Lineu Filho.

Por que sem água?

Um encanamento que se rompeu é apontado como o motivo do desabastecimento para dezenas de moradores. A obra que deve restabelecer o serviço acontece às margens da Rodovia dos Minérios, próximo ao Colégio Santa Maria. Um grupo de cerca de dez homens, com maquinário e canos, trabalha ao lado do acostamento.

“O cano estourou no sábado. A gente arrumou, estourou segunda-feira de novo. Viemos, consertamos. Arrebentou novamente nesta semana. Estamos fazendo o possível pra resolver tudo isso o quanto antes”, diz um dos funcionários. A causa do rompimento, de acordo com ele, seria a pressão da água. “Tem que vir muito forte por aqui, porque ela precisa subir o morro e abastecer todo o pessoal lá de cima. Deve ter sido isso”, aponta.

Sanepar tenta explicar

A Companhia de Saneamento do Paraná esclarece que o rompimento aconteceu no último domingo e que, no dia seguinte, equipes de manutenção realizaram o conserto. Entretanto, na madrugada de terça para quarta-feira, houve novo rompimento. A nota enviada pela Sanepar informa ainda que, “entre segunda-feira (17) e terça-feira (18), a rede abasteceu normalmente o Reservatório Tanguá. Porém, devido ao calor e às altas temperaturas, o volume de água não foi suficiente para que o nível normal do reservatório fosse restabelecido”.

De terça para quarta-feira, o cano voltou a se romper e é este reparo que está sendo feito atualmente. Como medida de emergência, a Sanepar diz estar fornecendo água para a região por meio de um sistema alternativo e que o abastecimento está normalizado em alguns locais informação rebatida pela população entrevistada pela Tribuna. A previsão, segundo a empresa, é de que tudo seja normalizado na manhã de hoje.

Sobre o autor

Ricardo Pereira

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