Vinho e seus aromas pitorescos: água mineral ou petrichor?

As predileções sobre aromas são diversas.

Há quem prefira aromas mais delicados, como os de bebês, talcos, da torta que a vovó fazia, do café que passava, ou mesmo das flores de um jardim; há quem prefira os mais rústicos, como os químicos, por exemplo, contudo, uma coisa é certa: aromas nos remetem a lembranças, certo?

Nessa esteira, parece-me que um aroma tem a preferencia unanime em se tratando de extrair recordações, de boas lembranças: o da chuva de verão, que normalmente nos remete às nossas infâncias, quando os problemas eram simples e não passavam da quantidade dos dedos de uma das mãos.

Pois bem, estamos versando sobre aromas de água, certo? Ainda que alguns defendam que a água é uma sensação, não um aroma. Penso que um precede o outro e sua junção gera a lembrança da água e, consequentemente, da chuva.

Podemos acrescentar a essa filosofia de aromas de chuva, a terra molhada, como é o caso de um bom vinho bordalês, que usualmente nos apresenta um “sous bois”, que nada mais é que esse aroma de chuva, chamado de “petrichor”, e terra molhada, acrescidos de uma vegetação rasteira e folhas em estado de decomposição (óleos voláteis que as plantas soltam), como se você estivesse em meio à mata que fora toldada por uma chuva recente. Essa lembrança normalmente é de água em temperatura ambiente ou sensivelmente mais quente.

Já o caráter mineral, sempre lembrado em degustações, excluindo aqueles que se aproximam e se confundem com o químico, como ferro, pilha, granito, mas direcionado à água propriamente dita, exala uma sensação mais fria, afastando-se do “petrichor” e nos posicionando em frente a uma cascata. E, nesse caso, ainda poderia acrescentar lembranças de pedras e, por vezes, notas herbáceas.

Enfim, simplificando minha tese: aroma que te traz a lembrança de chuva de verão é aquela que apresenta água com sensação de temperatura ambiente e/ou mais quente (normalmente em razão do grau alcóolico mais alto), enquanto o simples mineral de água nos apresenta uma sensação mais fria, como se você estivesse parado defronte a uma cascata em um dia ensolarado, sentindo uma leve brisa gélida.

Filosofias à parte, ainda que alguns as achem exageradas, tente reconhecer ambos os aromas no seu próximo vinho, sempre os diferenciando pela sensação térmica. Caso consiga, um trará sua infância de volta, o outro o levará a uma bela cascata.

Cheers!

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