Joel Mendes, o goleiro internacional

“Na pequena Campo Magro, onde nasci, despertei para a prática do futebol, com apenas 10 anos de idade. Na hora de recreação da escolinha da Tia Odete, eu, ao lado dos garotos, participava de animadas peladinhas.” “Assim, o hoje famoso ex-goleiro Joel Mendes começa a contar sua história para o colaborador Mussum. Em 1958, minha família mudou-se para Curitiba, fixando residência na Colônia Santa Felicidade. Pretendia jogar no Iguaçu, mas senti que seria difícil ganhar uma oportunidade no alvinegro porque lá revezavam-se três grandes goleiros: Dirceu e Romeu Stival (irmãos) e o famoso Adir Carnieri, que havia defendido o Ferroviário e o Operário do Ahu. Por iniciativa própria, me desloquei até o vizinho Estádio Francisco Muraro, casa do maior rival, Trieste FC. Isso aconteceu no ano de 1962, quando o técnico Pedro Luca gostou de meu modo de atuar e me registrou apesar de eu nem ter atingido a idade mínima para jogar no segundo quadro. Tudo resolvido junto à federação e lá estava eu com a camisa número um do Trieste, onde ganhamos o título da categoria. Ainda no ano de 1963 sagrei-me bicampeão do Sesi pelo timão das Malas Ika. Ganhamos também o título estadual sesiano frente o Frigorífico Wilson de Ponta Grossa. Em 1964 subi para o time principal do Trieste jogando ao lado de algumas feras como Genival, Valdo, Altair e Tosin. Conquistamos o primeiro título de campeão pelo Trieste em toda a sua história e tive o privilégio de ser fotografado pela primeira vez pelo Levi Mulford da Tribuna do Paraná. A decisão foi contra o famoso Real do Waldomiro Rauth, no Estádio Orestes Thá. Meu nome já ganhava espaço na Tribuna, fato que me tornou conhecido. Criei coragem e fui por conta própria participar de um dos treinos do Coritiba. Michel Chechia observou meu trabalho e autorizou minha contratação pelo Glorioso. O goleiro titular Raul Plassman estava sendo negociado com o São Paulo. Os reservas Erol e Bira estavam mudando de clube, ficando o Barbosa como goleiro número um e eu na reserva imediata. Em 1967, num amistoso do Coritiba com o Seleto de Paranaguá, entrei no segundo tempo substituindo Barbosa e ganhei a posição de titular nos jogos seguintes. Fomos decidir o título paranaense em Londrina, no VGD, contra o São Paulo local, como favoritos absolutos à conquista do título. Deu zebra. Perdemos por um a zero e o título ficou com o Água Verde, que decidiu com o Grêmio Maringá. Em 1968, com 22 anos de idade, me sentia ainda um pouco verde para ocupar a meta titular do Coritiba e a diretoria observou o meu problema contratando Célio Maciel. Fiquei no banco na série decisiva com o Atlético Paranaense. Na segunda partida no Durival Britto, o Coritiba jogava pelo empate porque tinha ganho o jogo anterior. No último minuto Paulo Vecchio, que havia entrado no lugar de Rossi, fez de cabeça o gol de empate que significou meu primeiro título como jogador profissional. Em 1969, o técnico Francisco Sarno optou pelo meu trabalho como goleiro titular e chegamos ao bicampeonato. Tive a honra de evitar que Pelé marcasse o milésimo gol aqui no Coritiba, o que aconteceu semanas após lá no Maracanã num jogo do Santos com o Vasco da Gama. Nesse mesmo ano fiz minha primeira viagem internacional, guarnecendo a meta do Coritiba em gramados da Alemanha, Bélgica, Holanda, França e Espanha. Realizamos um total de doze jogos. Aprendi muito com o goleiro Célio. Estava gozando férias em Camboriú quando recebi um telefonema solicitando meu regresso imediato. O Coritiba havia cedido meu passe para o Santos FC. Em apenas dois coletivos ganhei a posição de titular do Santos, embarcando em seguida para Santiago do Chile onde o Santos ganhou um título internacional enfrentando o Dínamo de Moscou, América, do México, Colo-Colo, do Chile e outros. Retornamos e disputamos o torneio Cidade de São Paulo, que o Santos conquistou com um time misto. Sofri uma fratura no punho direito, que me afastou dos gramados por seis meses. Recuperado em 1972, o Coritiba mandou me chamar para ser reserva do Jairo. Revezando na meta com o Jairo, conquistamos o título paranaense e o famoso Torneio do Povo em 1973, quando o Santos me levou de volta. Excursionamos para os Estados Unidos. Em 1974 foi emprestado para o Vitória da Bahia, onde ganhei a Bola de Prata da revista Placar, jogando ao lado do Mário Sérgio. Tricampeões baianos e 3.º colocados no brasileiro. Voltei para o Santos em 1975 e no ano seguinte fui emprestado para o EC Bahia (pentacampeão da Boa Terra). Em 1979 fui negociado com o Santa Cruz do Recife. Fui bicampeão ao lado de Nunes, Fu-Manchu e Carlos Alberto Barbosa, entre outros. No ano de 1980 o comendador Enzio Scarleti e o diretor Aziz Domingos me trouxeram para o Colorado da Vila Capanema. Dividimos o título com o Cascavel naquele famoso cai-cai do time visitante. Foi naquela temporada que tomei aquele gol do goleiro Zico e também aconteceu aquele fato inusitado, quando o preparador físico do Colorado salvou um gol do Toledo, tirando a bola de cima da risca. Em 1981 já pensava em parar com o futebol, mas aquela vitória de 4×0 sobre o Flamengo e outro jogão no Maracanã fizeram que mudasse de idéia e fiquei mais três anos guarnecendo a meta do Colorado. Em 1983 chegamos perto, mas tivemos que nos contentar com o vice. Daí, parei de vez como jogador. Trabalhei nas categorias de base do Coritiba de 1998 e 2003. Se aparecer uma oportunidade, poderei tentar a sorte como treinador ou dirigente de clube. Experiência não me falta.”

Nome completo: Joel Mendes, nascido em Campo Magro(PR), dia 25 de junho de 1946, 57 anos. Posição única na carreira: goleiro. Tem muitas histórias curiosas para contar, principalmente nas escursões pelo exterior, inclusive numa em que perdeu o avião em pleno aeroporto de Miami (Estados Unidos). Joel em sua carreira conquistou 16 títulos entre amadores e profissionais. Ganhou também uma bola de prata em 1974.