Cybercondria

Hoje, seis milhões de pessoas farão uso da internet para obter informações sobre a própria saúde. A cada segundo, umas 100 pessoas tamborilarão seus teclados em busca de sinais, sintomas e tratamento para toda sorte de doenças.

Sim, a manutenção da saúde depende de informação. Em tese, quanto mais esclarecidos formos, mais saudáveis também seremos. Na prática, contudo, o que se vê é um aumento de pessoas convencidas de diagnósticos absurdos, sugeridos pelo Dr. Google. É o caso de uma senhora com uma severa anemia, resultado de uma mudança drástica em sua alimentação, oriunda da certeza “virtual” de ter uma intolerância simultânea ao glúten e à lactose.

Com efeito, o autodiagnóstico tem conduzido à automedicação, com direito a drogas sem ação, dosagens equivocadas e o uso de terapias alternativas com base científica pra lá de duvidosa. Dou o exemplo de um paciente que chegou bem mal ao hospital, com falência renal causada por um “fitoterápico” comprado online. Por fora, o rótulo trazia um inocente “Erva Medicinal”. Por dentro, um arsenal pesado contendo opióide, corticoide e anti-inflamatório.

Talvez o maior pecado deste imenso consultório digital esteja no fato de que ele “globaliza” as pessoas. Porém, o ser humano precisa ser individualizado em suas queixas. Cada qual tem a sua história médica, com sinais e sintomas que o diferem de qualquer outra indivíduo no planeta. Mais que isso, todo paciente precisa ser ouvido e examinado. Não por um computador, mas por pessoas de verdade.