Salário rachado

Só oito? Este é o número, segundo o Ministério Público, de vereadores da Câmara Municipal de Curitiba sob investigação da promotoria de Proteção ao Patrimônio Público. São 38 cadeiras na casa. Fora os atuais, outros seis ex-parlamentares locais estão sob a mira dos promotores. Então são quatorze. Só?

O advento da Operação Lava Jato desnudou as práticas políticas no Brasil. Nos escancarou a maneira danosa e sacana com que a maioria dos detentores de mandatos populares lida com a coisa pública. Por isso a pergunta já duplicada. Difícil acreditar que apenas essa quantidade merece ser alvo da vassoura da lei.

O crime da hora, que não é tão da hora assim, é retenção de parte do salário de funcionários e assessores. Funciona assim: o vereador contrata você e oferece pagar R$ 3 mil. Mas, no dia de receber o primeiro salário, você descobre que o holerite registra R$ 6 mil, e que essa diferença você tem que entregar pro patrão. E isso vai acontecer todos os meses.

Só que, nesse caso, a grana não é do patrão. E a Câmara não é a empresa dele. Trata-se de dinheiro do povo, como sempre mau usado. Roubado, desviado.

Histórico

A história não é de hoje. Há muito se ouve falar de exemplos como esse. O funcionário, que precisa dos três pilas, mantém tudo em segredo com medo de perder a metade dele do contracheque.

É triste, mas não podemos mais aceitar práticas como essas. Tampouco permitir que os casos trazidos à toma sejam sorrateiramente varridos pra debaixo do tapete. Já aprendemos que não é necessário aceitar gente assim.

Necessário mergulhar mais, ampliar o leque de investigação. Vasculhar a Assembleia Legislativa, palco de outros tantos escândalos. Os Diários Secretos, série da Gazeta do Povo e da RPC, estão aí nos anais da história. Infelizmente, quando o assunto é política e os políticos brasileiros, a velha máxima de que todos são inocentes até que se prove o contrário, é moralmente inaplicável.

O nível baixou demais!