Legal pra lei, mas não pra nós

Por que é tão difícil dar exemplo, andar na linha, ser moralmente aprovado por suas atitudes, independente de justificativas legais? O dia em que os políticos derem atenção a isso, boa parte dos problemas brasileiros terá encontrado solução. Por enquanto, seguimos tropeçando em más notícias, que embrulham o estômago.

Vejam só o ex-governador Beto Richa. Em abril, exerceu o mandato por seis dias, tão somente. Renunciou ao sétimo dia. Não pra descansar. Pretende ser candidato ao Senado. Mas, quando seu nome deveria estar passando por um período sabático, antes do início da corrida eleitoral, eis que surge o fato: ele trabalhou só seis dias, mas recebeu pelo mês todo.

Se isso aconteceu, é certo que há amparo legal para tanto. Se ele aceitou, mais claro ainda é que lhe faltou amparo moral. Por que é tão difícil entender? Que tal se ele tivesse oficiado o setor de gestão de pessoas do estado, solicitando receber apenas pelos dias trabalhados? Dar exemplo, andar na linha.

Beto não caminha só. Prática comum no serviço público é se beneficiar do erário e colocar a culpa em alguma lei ou regimento. Se puder dizer que não tinha escolha, que era obrigado a receber, melhor ainda.

#SQN

Mas estão errados, todos. Ninguém é obrigado a fazer nada que não queira ou acredite. A não ser que esteja sob ostensiva ameaça de vida.

Na mesma linha estão integrantes da magistratura e do Ministério Público. Mais de 80% dos juízes e promotores aceitam receber o tal do auxílio moradia, mesmo morando na sua cidade natal, em residência própria. É legal, mas moralmente criminoso. Palmas a uma brava minoria, que recusa, dando um bico na legalidade, numa lição de moralidade.

Será possível lembrar disso na hora de votar, em outubro? É a missão cidadã do ano. Escolher pessoas que passam ao largo desse estereótipo aproveitador da coisa pública parece ser a primeira obrigação. Romper com esse padrão de político tradicional, de fala fácil e combinada, sempre pronto a se beneficiar de algo. A principal lição pra essa gente só pode vir de um lugar: as urnas!