Escravos das próprias línguas

Você tem trabalho formal? Se considera escravo? Nos últimos dias a pesada palavra ganhou manchetes a partir das lamúrias de duas importantes figuras públicas. Primeiro o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que se considerou escravizado pela enorme quantidade de trabalho que tem. Depois Luislinda Valois, ministra dos Direitos Humanos, que está indignada por receber apenas R$ 3.200,00 por ocupar o atual cargo.

E aí? Estamos diante de dois casos de escravidão ou cara-de-pau? Luislinda é desembargadora aposentada. Por sua longa jornada jurídica, recebe de aposentadoria pouco mais de R$ 30 mil. Como a lei limita os vencimentos públicos em R$ 33.763,00, ela recebe uma quirera adicional pra ser ministra, cargo que, aliás, aceitou de livre e espontânea vontade. Poderia ter ficado em casa.

Gilmar Mendes, o falastrão togado do STF, também recebe o mais alto provento do funcionalismo. E, dia desses, ao comentar sobre as regras do governo federal para fiscalizar a prática no país, tentou comparar seu “exaustivo” trabalho à escravidão.

De certo, faltou o nobre jurista às aulas em que se ensinou isso nos bancos escolares. Primeiro que o plenário do Supremo não se assemelha a um campo de trabalhos forçados. Tampouco os gabinetes de suas excelências podem ser considerados senzalas. E os poderosos ministros? De que liberdade estão destituídos? Sob que absoluta sujeição caminham?

Realidade

Se você, amigo leitor, está formalmente empregado, integra um grande bolo que recebe, mensalmente, pouco mais de R$ 2 mil. Essa é a média salarial do povo brasileiro.

E se é funcionário público, seu time tem média salarial que ronda os R$ 3.200,00. Estabilidade funcional e sindicalismo forte forçam os salários pra cima. Por isso médias maiores, mesmo com teto constitucional limitando os ganhos de servidores públicos.

São escravos? Óbvio que não. Assim como a ministra e o ministro, que escravos são, tão somente, das próprias línguas. Das bobagens que falam, do desrespeito com o povo brasileiro. Que rala muito mais, recebe muito menos, e não tem direito a piadinhas de mau gosto.