Esbanjando prevenção

O festerê está armado. Na verdade, já chegamos na metade da festa. Nosso povo merece boas doses de alegria e o Carnaval, integrante cativo da tradição popular brasileira, cumpre bem esse papel. Até mesmo Curitiba, fria na temperatura e no estereótipo dos seus cidadãos, cede às tentações de momo. Uma pena que até mesmo sob o ritmo dos tamborins a desconfiança nos faz sentir cheiro de coisa errada.
De maneira pomposa, o Ministério da Saúde anunciou a distribuição de 77 milhões de preservativos, sendo 74 milhões masculinos e 3 milhões femininos. Pra entender o quanto o número é grandioso, necessário mergulhar nos dados do censo do IBGE.

Números

Somos mais de 190 milhões de brasileiros, dos quais 49% homens. 68,5% da população está na fatia entre 15 e 64 anos, que podemos considerar mais ativa sexualmente. Aplicado o percentual, podemos supor que falamos de cerca de 64 milhões de homens. Pra completar, dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), também do IBGE, mostram que 39,9% desses homens são casados. Teoricamente monogâmicos, menos suscetíveis ao sexo de aventura.
Ou seja, sobram pouco mais de 38 milhões pra usar todas essas camisinhas. Isso se contarmos que todos vão cair na folia. Quantos verdadeiramente vão? E aqueles que já têm a prevenção como hábito, sem esperar presentes do Estado?
Estamos gastando pra comprar preservativos a rodo, em número muito maior que o número de possíveis utilizadores, sob o pretexto de prevenir doenças sexualmente transmissíveis. Sem nenhum critério claro. Dá pra acreditar apenas nas boas intenções dos nossos agentes públicos?

Gestão

Obviamente que é obrigação do governo investir na prevenção de doenças, em especial aquelas que podem ser evitadas de maneira tão fácil. Camisinha é muito mais barato que coquetel antiaids ou remédio contra a sífilis. Mas esta campanha, em especial, demonstra o quanto pode ser mal planejado o investimento de recursos públicos. Que tal contar o estoque desses preservativos?

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