Pacificação da Lapa

Este é o “Ano Internacional da Reconciliação”. Atendendo apelo da ONU, a Lapa estende a mão e se prontifica a unir num só abraço Pica-paus e Maragatos, os históricos desafetos da Revolução Federalista que ainda guardam no fundo do baú alguns ressentimentos. São quireras do passado que, à mesa, não tiram o sabor da vera quirera lapiana.

Para os adventícios, explique-se que o velho Paraná é dividido em dois: de um lado, os Pica-paus; de outro os Maragatos. Exatamente como está neste mapa executado pelo cartógrafo Solda (Herói da Batalha de Itararé).

A escritora Thereza Lacerda é uma das passageiras do “Vagão do Armistício” lapiano. Nesta semana a pacifista participou de reunião da Associação Literária Lapeana e apresentou o projeto de “desarmamento” já aprovado e com o apoio da Prefeitura e da FAEL (Faculdade de Educação da Lapa). Em Curitiba, conta com a aprovação da 10.ª Superintendência Regional do Iphan, do Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria de Estadoáda Cultura e do Centro Paranaense Feminino de Cultura.O projeto será lançado ainda este ano, tendo o prazo de um ano para sua execução.

Para consagrar a paz, há o projeto de pequeno monumento a ser instalado no Panteon dos Herois da Lapa, com chama eterna em homenagem ao “Combatente Desconhecido”.

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A seguir, trecho da minuta preparatória da “Pacificação de Pica-paus e Maragatos”.

Tendo em vista que há distorções, sobram ressentimentos e, através de gerações, 115 anos decorridos do Cerco da Lapa, tanto de um lado quanto de outro ainda se propagam maledicências que geram hostilidades;

Tendo em vista que a Organização das Nações Unidas, pela sua Resolução 61/17, propôs o ano de 2009 como o Ano Internacional da Reconciliação;

Sugerimos, em linhas gerais, o seguinte projeto:

– Após consulta aos professores responsáveis, estabelecer a programação de aulas, palestras e fóruns de discussão nos cursos de primeiro e segundo graus;

– Convidar personalidades ligadas ao assunto para proferirem palestras;

– Levantar bibliografia geral sobre o assunto;

– Comparar textos escritos por pica-paus e maragatos;

– Concurso de logotipo para o projeto;

– Nas escolas, estabelecer as bases de concurso de dissertação e/ou de desenhos sobre o tema;

– Organizar no final do projeto um grande ato público com culto ecumênico em homenagem aos mortos no conflito, maragatos e pica-paus, seguido de festa de confraternização, troca de abraços, recitativos, enfim, o que a Comissão indicada para esta solenidade possa sugerir.

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Para o historiador Luiz Cesar Kreps da Silva, “existe muita documentação dispersa que aos poucos deve ser recolhida pelos pesquisadores. Somada à iconografia da época e ao arrefecimento das mágoas entre os descendentes, poderá tirar do obscurantismo muitas das falas que permanecem mudas”.

E, se permitem os Pica-paus e Maragatos, levo minha modesta sugestão ao congresso da paz: reconstruir na Lapa o lendário “Vagão do Armistício” da família de Poty Lazzarotto, com a quirera no lugar do risoto.