Amanhã

“Brasil, país do futuro”, é o título do livro de Stefan Zweig, o grande romancista e historiador que morou um bom tempo no Rio de Janeiro, onde suicidou-se ao lado da esposa Lotte. Zweig não era nenhum vidente de araque, mas em parte tinha razão: o brasileiro acredita demais da conta numa bola de cristal.

Mal sabe o brasileiro que, para prever o futuro, a melhor maneira é decifrar as mensagens que surgem diante de nossos olhos. Os hieróglifos do futuro. São momentos quando o futuro nos visita, sem bater na porta, e não percebemos sua presença.

Gabriel Garcia Marques, na sua biografia “Viver para contar”, conta de suas agruras como jovem jornalista e colunista colombiano: “A própria busca de um assunto diário tinha amargado meus primeiros meses. Não me sobrava tempo para mais nada: perdia horas esquadrinhando outros jornais, tomava notas de conversas particulares, me extraviava em fantasias que me maltratavam o sono, até que a vida real saiu ao meu encontro”.

Nesse sentido, uma de suas experiências mais felizes foi quando leu o anúncio de um vendedor ambulante: “Quem vende comida não passa fome”. Desta maneira, com os olhos abertos e a sensibilidade atenta, a própria vida ensinou ao escritor que um dos segredos mais úteis para escrever é aprender a ler os hieróglifos da realidade. Quantas vezes a premonição nos indicou caminhos, e não fomos capazes de perceber os signos, os hieróglifos da realidade?

Justamente faltando três dias para o final do ano, domingo passado a presidente Dilma fez o seu 17º pronunciamento à nação. A estratégia de aparecer cada vez mais em pronunciamentos em rede nacional custou até agora R$ 1,2 milhão aos cofres públicos. Cada vez que a presidente vai à TV, o Palácio do Planalto desembolsa R$ 90 mil com produção, gravação, edição, computação gráfica, trilha, locução, equipe e equipamentos.

Uma informação como essa, no último dia do ano, não quer dizer muita coisa. Mas para quem gosta de prever o futuro, pouca coisa não é. Acredite se quiser, em 2014 teremos eleições para presidente.