Um fenômeno atleticano

O Grêmio, mais uma vez, começa a decidir a Copa Libertadores da América. Não nego e afirmo, que às vezes, sinto inveja dos gaúchos.

Não é a inveja no sentido de desprezo e de desejo do mal, mas aquela a que se referia Oscar Wilde, que cria um sentimento que reduz a nossa capacidade para alcançar coisas grandiosas. Não quero ir muito longe, porque seria me humilhar com comparações históricas. E nem é preciso, pois esgota-se tudo no futebol.

O Grêmio na final da Libertadores é o ponto de partida para o tema. Com a sua Arena, vem ganhando títulos e provocando, mesmo que temporário, um desequilíbrio de sua torcida em relação ao Inter. Em São Paulo, o Corinthians com a Arena do Itaquerão, ganhou o Brasileiro e enlouqueceu o seu povo. O Palmeiras, com a sua Arena, ganhou o Brasileiro e a Copa do Brasil, despertando outra vez a paixão de sua torcida que andava recolhida. Em Belo Horizonte, o Cruzeiro na Arena do Mineirão criou uma espiral de conquistas.

Presumo que o leitor já sabe onde eu quero chegar. No Clube Atlético Paranaense. De todos os clubes que passaram a jogar nas modernas arenas construídas para a Copa do Mundo, o Furacão é o único que não conseguiu nenhuma conquista de expressão. Não sou hipócrita de usar Corinthians, Palmeiras, Grêmio e Cruzeiro como referências para entrar nesse vazio do Atlético. As diferenças históricas criaram diferenças econômicas, que já há alguns anos, antes mesmos das arenas, repercutem em desequilíbrio técnico.

É aí que vem o fato determinante do tema. O Atlético com toda a sua estrutura, em especial com a Arena da Baixada, não criou um único mecanismo para buscar diminuir as diferenças históricas. Ao contrário, tornou obsoleto o que havia modernizado: sem investimentos no futebol (portanto, sem time) ganhou apenas um Estadual. Não revelou jogador, não criou nenhum ídolo, e no seu momento mais importante desprezou a torcida, abandou na Baixada e foi jogar a sua vida na Libertadores na Vila Capanema. A Baixada da Copa apontando para um cenário contraditório, provoca um fato inusitado: faz mal ao Atlético.

tendência de queda já não pode mais ser atribuída ao valor do ingresso, ao valor do título de sócio ou ao sistema da biometria. O atleticano está sentindo-se ofendido porque foi traído por Mário Celso Petraglia e Sallim Emed, que tem que parar de se esconder.

O corolário desse cenário arrasador está no público do jogo contra o Vasco, o segundo time mais popular do Rio de Janeiro, e com uma vaga em disputa para a Libertadores: 8 mil pagantes, que até 2014 na velha Arena, era público de treino.

É doída uma ofensa por traição. O Atlético precisa, também, de pobres.