Oportunista

Não conheço pessoalmente o professor Paulo Autuori. Mas há tempo o acompanhando por dever de ofício, nunca vi ele terminar uma frase e encerrar uma ideia. Às vezes dá impressão que é aquele, que sem ter um vocabulário intenso, impressiona-se com a sonoridade de algumas palavras. Pode até saber ou aprender o seu sentido, mas não sabe o momento de empregá-las. Sei que Autuori, quando pode, lê o site da Tribuna. Quero dizer que não vesti a carapuça, como um leitor sugere. Aliás, não sei se há alguma que me veste. Após a vitória em Santiago, assim falou o professor: “Os iluminados do futebol, e tem muitos na mídia, sabem de tudo. Eu entrego a vitória aos oportunistas de plantão”.
Os iluminados deu bem para entender: somos todos nós, cronistas ou torcedores, que nas mídias fizeram críticas ao treinador, porque seu time não ganhava há um mês, perdeu para o Londrina (2×1), Coritiba (3×0), San Lorenzo (3×0), Bahia (6×2), sofreu 14 gols, marcou três gols, e perdeu o Estadual. Talvez, se não fossem as vozes e as letras dos iluminados das mídias, o Atlético não teria a alma que teve na conquista de Santiago.
Mas não é a expressão “iluminados” que me provoca a atenção. Entendo até que foi bem colocada pelo treinador. O que me provoca é o uso da expressão “oportunistas”. A forma como Autuori colocou é substantiva, isto é, está se referindo a determinadas pessoas, que segundo ele, se aproveitam de circunstâncias isoladas para fazer críticas.
As críticas de imprensa e de torcida foram em razão dos fracassos sem interrupção, que afastou o caráter circunstancial (é o pressuposto do sistema oportunista). E vejam só um exemplo como uma pessoa sem saber empregar algumas palavras, cria situações inusitadas. Ao oferecer a vitória “aos oportunistas”, o professor Autuori foi literalmente oportunista. Acuado, em silêncio, com o emprego a perigo, depois de cinco fracassos usou a única oportunidade que o time lhe deu para rebater as críticas. Quem faz isso é oportunista.