Lembranças e saudades

“O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades”, deixou escrito o imortal Mário Lago antes de ir embora.

A lição carregada de beleza, tem o peso da realidade. É que as lembranças não nos remetem necessariamente para momentos felizes. Impostas pela realidade, às vezes, não se afastam. Melhor seriam as saudades, porque essas pressupõem a felicidade.

O ano está terminando e saudades só deixou para o Paraná. A volta à 1ª divisão despertou sua torcida falecida. Por ser mais emocionante fora do que dentro de campo, a volta deixou de ser história para ser composta por diversas narrações, uma verdadeira saga.

A noite, em que 40 mil tricolores mostraram que na Baixada é possível, também ter alma, foi o corolário dessa saga. Não sei se o Paraná deixará lembranças ou saudades em 2018, quando voltará ao mundo elitizado que o renegava. Seja o que for, as saudades que carrega de 2017 são aquelas que nunca cansam.

Nem lembranças ficaram para os coxas. Talvez, negar-lhes qualquer sentimento, seja uma forma de consolo para a humilhação, que é enterrar-se mais uma vez na segunda divisão. Uma história centenária que há anos é desprezada no próprio Couto Pereira, que tornou a queda um fato previsível, ao ponto de ser absorvida pela opinião pública com naturalidade.

As lembranças que o Atlético deixa são baseadas na contradição. Tão grandioso em matéria, tão pequeno em espírito. Maltratando a sua alma, vai acabar 2017 com a Baixada vazia, triste e de joelhos, querendo sentir cheiro de povo.

Termina mais um ano. Acertei e errei. O que me consola é o poema de Fernando Pessoa: Temos, todos que vivemos, Uma vida que é vivida, E outra vida que é pensada, E a única vida que temos, É essa que é dividida, Entre a verdadeira e a errada”. É a vida de todos nós. Feliz Natal a todos.

O blog e a coluna voltam dia 8 de janeiro.