Jogo perdido

Nunca conversei pessoalmente com Caio Júnior. Por às vezes ser carente de algumas virtudes, subi no elevador com ele sem trocar uma única palavra. Depois, certa vez, escrevi que eu retardava minha saída dos jogos da Baixada só para ouvir seus comentários e de Sicupira, na Rádio Banda B. Recorri ao arquivo e está lá: “Caio Júnior e Sicupira são os melhores. Falam bem, de um negócio que conhecem: futebol.”

Ouvia-os porque, às vezes, a dúvida me empurrava em busca de uma referência para corrigir os meus limites. No dia seguinte, Caio Júnior me telefonou, agradecendo. Foi a única vez, que conversamos. Uma conversa de um minuto, coisa assim, pois fiquei mudo de emoção. É que sempre me senti pequeno diante de ídolos, que não precisavam necessariamente ser os meus ídolos, como aqueles que encharcaram a camisa de suor vermelho e preto.

Quero confessar que, alcancei uma fase na vida, que sinto pressa em fazer algumas coisas, que ainda não fiz. Mas há uma que eu queria e não posso mais fazê-la. Por não acreditar no acaso, demorei. Caio Júnior foi embora.

É um jogo que perdi e não poderei mais jogá-lo.

Tristeza

Na cerimônia da Arena Condá, o brasileiro mostrou uma virtude que outras civilizações desconheciam que existia na sua cultura: a tristeza. Não aquela tristeza a que se referiu o sociólogo Paulo Prado no seu ensaio Retratos do Brasil: “Numa terra radiosa, vive um povo triste”. Essa tristeza queria expressar a existência de um povo tímido, desanimado e conformista, às ordens colonizadoras durante quatro séculos. Bem interpretado, Prado quis dizer, que a tristeza do brasileiro era uma obrigação forçada.

A tristeza de Chapecó, que projetou esse aspecto da cultura do povo brasileiro, foi diferente. Por ser agressiva, a morte imprevista nos imobiliza, e às vezes, só conseguimos reagir através de reações incontroláveis. Pois o povo de Chapecó controlou essa emoção, permitindo que a cerimônia de adeus aos ídolos fosse regrada pelo sentimento interior. E não existe nada mais nobre do que o sentimento que guardamos. Foi tão grandioso que deixou que, a água chuva que caía do céu se confundisse com à das lágrimas que vertia do coração. Poucas coisas foram tão belas como a tristeza de dona Ilaídes Padilha, mãe do goleiro Danilo: uma tristeza que consola.

O povo de Chapecó mostrou ao mundo que, o brasileiro, também, sabe ser triste.