Desembargador Afinho

ADOLPHO KRÜGER PEREIRA! O próprio nome já era imponente. Combinava com o personagem atacarrado e de feições poderosas, que contrastavam com o apelido de carinho: AFINHO! Uma fisionomia que a história contada por seus amigos podia ser ampliada quantas vezes necessárias, e só acrescentaria dignidade e seriedade. Afinho era, simplesmente, uma pessoa majestosa.

Uma das suas marcas como grande homem foi ter, ao longo da vida, agido de tal forma que o curso dos eventos dos quais participou foi influenciado pelo que ele fez. Uma dessas marcas, descobre-se na história do Clube Atlético Ferroviário, a porção mais nobre oferecida pelo futebol para a formação do Paraná Clube. Poucos como Afinho influenciaram da grandeza do clube da Vila. Embora profissional, nunca deixou de esconder o seu amor pelo “Boca Negra”, sentimento que saia da abstração para ser declarado por um jogo de ideal, jogo brigado e jogo jogado, como se jogasse a própria vida. Pelo Ferroviário, Afinho estava sempre em guarda. Como ele via muito da vida, de longe, o gol sempre estava próximo.

Quando entrei no jornalismo, Afinho já tinha ido embora tornar-se desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná. Provou o quanto o futebol marca na vida de todos nós. O seu nome imponente Adolpho Krüger restou apenas como trânsito formal para atos solenes de gabinete, despachos e julgamentos. A figura do desembargador Adolpho cedeu a majestosidade de Afinho. A sua marca pública de goleador era tão forte, que tornou impossível dissociá-la do desembargador. Ao contrário engoliu-a. Bem por isso, Adolpho teve que transigir com a sua marca maior, e tornou-se Desembargador Afinho.

Entrevistando-o como repórter da Rádio Guairacá, para que contasse as histórias do Cori-CAF, o grande clássico da época, fui ter com ele um tempo depois. Fiquei à vontade, parecendo que estava perto de um velho conhecido. Lembrei do pensador romano Cícero, em seu “Saber Envelhecer”, que para saber dos grandes homens não é preciso conhecê-los. É que a história se eterniza e se encarrega de alcançar todas as gerações. Dos grandes craques, também.

A história de Afinho é bela, como é toda aquela que para ser contada não precisa ser alienada à fatos acessórios, inusitados ou enigmas. É bela porque conta a história da dignidade de um homem, que foi recepcionada pela da do craque, e que o transformou do maior artilheiro do Ferroviário. No histórico título do Centenário em 1953, Afinho foi o artilheiro com 15 gols. No título de 1952, já tinha marcado 20 gols.

Não escrevo sobre a morte de Afinho, porque a sua vida é mais alegre de se contar. Seguiu um curso muito preciso e a natureza dotou-a de qualidades especiais, preservando-as até agora quando foi embora.

À família de Afinho, os meus respeitos.

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