UEL recebeu simpósio de loxoscelismo

A Universidade Estadual de Londrina (UEL), no bojo do XXVI Congresso Brasileiro de Zoologia (3.500 participantes), na semana de 12 a 17 de fevereiro de 2006, abrigou as atividades do 1.º Simpósio Brasileiro de Loxoscelismo, ou seja, o quadro epidemiológico completo envolvido e resultante das nocivas picadas da aranha-marrom, Loxosceles intermedia e outras espécies. Para este segmento foi de fundamental importância a disponibilização de recursos por parte da Sesa – Secretaria da Saúde Pública do Paraná e pela PMC – Prefeitura Municipal de Curitiba e daí os agradecimentos formais ao secretário Cláudio Xavier e ao prefeito Beto Richa. O aporte foi gasto nas despesas de viagem, hospedagem e alimentação de vários convidados cujas apresentações foram distribuídas em 3 mesas-redondas (centradas na Ecologia e Biotecnologia) e workshops, (focalizados em aspectos epidemiológicos e controle populacional do animal) criteriosamente organizadas e acompanhadas pelo mestre em Biologia Emanuel Marques da Silva, do CPPI – Centro de Pesquisa e Produção de Imunobiológicos da Sesa-PR juntamente com seus colegas do projeto Pronex-PR ?Monitoramento e controle populacional da aranha-marron?, financiado pela Fundação Araucária da Seti-PR.

O alemão Stefan Schulz, convidado estrangeiro oriundo da Technische Universität Braunschweig, é a maior autoridade mundial na descoberta e caracterização dos semioquímicos ou compostos voláteis mediadores da comunicação entre aracnídeos. É autor das 3 únicas publicações no tema, incluindo a identificação, síntese e teste dos compostos. Agradou pela simplicidade e competência e agora passa a colaborar com o projeto Pronex-PR. Do Instituto Butantan, tradicional centro de pesquisa em venenos e animais peçonhentos, vieram o professor Osvaldo Augusto Sant?Anna, quem traçou os caminhos historicamente percorridos pela instituição e a doutora Kátia Cristina Bárbaro, atuante na caracterização molecular das toxinas individualmente existentes no veneno de Loxosceles spp. (inclusive a preparação de anticorpos específicos, ou seja, monoclonais) e sua neutralização, além da reatividade cruzada. Esta última palestra foi casada com a exposição do professor Silvio Sanches Veiga, do Laboratório de Matriz Extracelular e Biotecnologia de Venenos da UFPR, quem detém o mérito da clonagem pioneira (em Escherichia coli) de uma das mais potentes toxinas (esfingomielinase) da aranha, assunto que despertou até o interesse do Exército americano. Uma extensa e ricamente ilustrada análise histopatológica da dermonecrose e nefrotoxicidade também foi apresentada. Na estatística de acidentes loxoscélicos, o Estado do Paraná desponta com 6.286 casos, seguido de Santa Catarina (931), Rio Grande do Sul (152) e Minas Gerais (79 casos) cujos dados foram criteriosamente abordados pela coordenadora do Programa de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde, Fan Hui Wen, médica e pesquisadora do Instituto Butantan, e por Marcelo Santalúcia, consultor do mesmo ministério. Mas uma espécie, L. similis, embora tendo cavernas como habitat, foi capturada em edifício metropolitano de Brasília conforme relato do professor Paulo César Mota, da UnB. A médica-veterinária Maria da Graça B. Marques, do Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul – FEPPS  e apresentou a visão de seu Estado e sobretudo um interessante programa de esclarecimento pedagógico à população. As contribuições institucionais (Estado do PR e município de Curitiba) estiveram a cargo da bióloga Gisélia Burigo Guimarães Rúbio, da Secretaria Estadual da Saúde do Paraná – Centro de Saúde Ambiental, e do biólogo Marcelo L. Vettorello, do Centro de Epidemiologia da Secretaria de Saúde – PMC, confirmando um caso fatal no ano de 2005 em Curitiba e esclarecendo que, na base de estatística de acidentes reportada ao numérico populacional, Irati aparece com maior incidência em relação a Curitiba, conhecida como a ?capital mundial dos acidentes loxoscélicos?.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR e coordenador do projeto Pronex-PR. Atuou como moderador e debatedor no simpósio londrinense. 

Projeto Pronex-PR apresenta visão integrada da biologia do gênero Loxosceles

Da parte dos pesquisadores do projeto Pronex-PR, o trio Marta Fischer (PUCPR), Eduardo Ramires (Universidade Tuiuti) e Francisco Assis Marques (Departameno de Química da UFPR, vice-coordenador do projeto Pronex-PR) apresentou uma visão integrada da biologia do gênero Loxosceles, a avaliação de métodos tradicionais de controle como repelentes e pesticidas e a proposição de novos métodos de controle populacional do aracnídeo. Dentre estes instrumentos estão os repelentes de baixo risco à saúde humana e animal e um equipamento explorando a física do calor, em colaboração com tecnologista-UFPR, Luiz F. Peracetta. As discussões seguiram uma orientação multidisciplinar. Também enfatizados aspectos ecológicos tais como o hábito generalista da aranha em relação aos substratos (materiais para habitação), alimentação (variado elenco de insetos suculentos), a necrofagia e a dispersão à custa de grande atividade locomotora. O potencial de drogas limonóides (inibidoras da biossíntese de quitina ou exoesqueleto da aranha) também foi mencionado.

A gravidade dos acidentes loxoscélicos reside em várias atividades enzimáticas das quais a proteolítica (degradadora de proteínas), lipásica (degradadoras de lipídios) e polissacaridásica (degradadora de ácido hialurônico) são, possivelmente, as mais importantes. Dest?arte, o veneno injetado provoca : a) agregação plaquetária, seguida de distúrbios na cascata de coagulação e coagulação intravascular; b) destruição da matriz extracelular e membrana basal (cuja composição é próteo-lipídica); c) hemólise (desagragação das células vermelhas ou eritrócitos). Por extensão, alguns órgãos são especificamente lesionados, como é o caso dos rins (insuficiência seguida de falência) além do aspecto cruento das feridas dermonecróticas (erosão da epiderme e tecidos mais profundos).

Além das 3 espécies que assolam o território brasileiro (L. intermedia, L. laeta e L. gaucho), outras duas são características do território norte-americano e México (L. reclusa e L. deserta) enquanto que na África e Europa predomina outra espécie (L. rufescens).

A dose letal para o veneno de Loxosceles (ensaiada em animais de laboratório) se situa entre 0,48 e 1,45 mg de veneno / kg de peso corpóreo, dependendo da espécie que faz a picada. A terapia é baseada em soro (fabricado no Instituto Butantan e no CPPI-PR) sendo que a droga dapsona (que inibe a migração de neutrófilos) é também de utilidade, além dos corticóides para aliviar a reação inflamatória.

Uma outra oportunidade de ampliação no ganho de conhecimento sobre a aranha-marrom foi a vinda a Curitiba (patrocinada pela Fundação Araucária), em novembro de 2005, do pesquisador esloveno Andrej Cockl, especialista na utilização de laser para mapeamento de movimentos vibratórios de insetos e outros animais. As experiências conduzidas no CPPI se constituem no primeiro registro em Loxosceles e cobrem tanto machos quanto fêmeas, principalmente em situação de acasalamento.

Das mesas-redondas e workshops e das discussões ali travadas se conclui que o tema, apesar dos avanços, seja dos pontos de vista de compreensão cientifica seja das implicações epidemiológicas lato sensu, é uma página científico-tecnológica em aberto e sobretudo a efetividade de ações preventivas e terapêuticas carecem de uma avaliação mais profunda que deve surgir como fruto da parceria entre pesquisadores do projeto Pronex-PR e serviços de saúde nas esferas municipal, estadual e federal. O objetivo maior é implementar táticas de menor impacto ambiental e na saúde pública dentro dos limites do possível para reduzir o número de pessoas vitimadas pelo loxoscelismo

A equipe do projeto Pronex-PR e seus convidados agradecem, na pessoa do entomólogo e docente professor Mário Navarro da Silva (Zoologia-UFPR), atual presidente da SBZ – Sociedade Brasileira de Zoologia, e ao professor da UEL José Lopes, presidente da Comissão Organizadora do XXVI Congresso de Zoologia o espaço aberto em favor do 1.º Simpósio Brasileiro em Loxoscelismo. (JDF)

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