Savoia, o time camaleão do futebol paranaense

Se ainda existisse, o Savóia Futebol Clube estaria perto do centenário. Apesar da ausência de títulos, o clube notabilizou-se como o que mais mudou de nome na história do futebol paranaense. Foram mudanças que visavam sempre a sua sobrevivência. O clube nasceu no dia 14 de julho de 1914 na região do Borghetto, no bairro Água Verde, com o claro propósito de homenagear a casa real italiana – tanto no nome quanto nas cores vermelha, verde e branca, da bandeira da Itália. O primeiro presidente do clube foi Traquino Todeschini.

Neste mesmo ano, em 17 de dezembro, nascia no mesmo bairro o Água Verde Esporte Clube. O Savóia começou a sua síndrome de metamorfose três anos depois do nascimento, quando o clube fundiu-se com o Operário, também do mesmo bairro, passando a se chamar Savóia-Operário. Em 1920, foi a vez de fundir-se com o Água Verde Esporte Clube, de cores verde e branca, passando a se chamar Savóia-Água Verde, nome que ostentou por algum tempo, voltando a se chamar novamente Savóia Futebol Clube. Se dependesse do clube, as mudanças acabariam aí.

Mas no começo dos anos 1940 estourou a Segunda Guerra Mundial e em 1942 e o governo Getúlio Vargas aboliu o uso de nomes de clubes que homenageavam países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) contra os quais o Brasil estava em guerra. O Savóia foi obrigado a mudar de nome mais uma vez. Um belo dia ele amanheceu Avai Sport Club, nome com o qual disputou o torneio início de 1942, mas na semana seguinte, no dia 3 de março de 1942, já se chamava Esporte Clube Brasil, com as cores nacionais, do Brasil, claro. Para não arrumar confusão, o uniforme era branco e o distintivo tinha as cores brasileiras no escudo, um escudo em que se destacava o mapa do Brasil.

Com este nome o clube disputou competições até abril de 1944, quando, sob a alegação de que o governo proibiu a utilização do nome Brasil em clubes de futebol, mudou mais uma vez, agora para o nome do bairro: Água Verde, já que Savóia ficou “queimado” nos anos da guerra. E as cores também mudaram: agora eram verde e branca. E foi com este nome e cores que inaugurou em 15 de agosto de 1953 o estádio Orestes Thá, em Vila Guaíra, e foi campeão paranaense de 1967.

Década gloriosa

Mas o Água Verde mudaria mais uma vez de nome e cores. Para diferenciar do Coritiba, um belo dia ele experimentou as cores azul e branca, embora o time fosse verde e branco, e em 12 de agosto de 1971 um plebiscito no clube alterou a denominação da agremiação para Esporte Clube Pinheiros, que tinha uma araucária no escudo e as cores azul e branca como emblemas. Segundo Carneiro Neto, a mudança de nome teria sido sugestão indireta do então presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), João Havelange. Impressionado com a estrutura do clube, durante uma visita, ele teria dito: “Vocês têm tudo que um grande clube precisa. Só este nome não soa bem. É muito bairrista. Com ele não vão longe. Nunca terão alcance nacional”.

Aquilo pegou fundo no pessoal que comandava o futebol do Água Verde e a diretoria resolver mudar tudo da água para o vinho: o time trocou definitivamente o verde e branco pelo azul e branco e Água Verde ficou na saudade e na história para dar lugar ao Pinheiros. Em sua curta história, principalmente nos anos 1980, o Pinheiros revelou bons jogadores e cobriu-se de glória – mais que os antepassados em décadas anteriores. Foi duas vezes campeão estadual (1984 e 1987) e três vezes vice (1985, 1985 e 1988). No entanto, no dia 19 de dezembro de 1989, o Savóia, quer dizer, o Esporte Clube Pinheiros, promoveu fusão com o Colorado Esporte Clube, dando origem ao Paraná Clube, e, quiçá, pondo fim à estranha mania de mudar de nome.

Divulgação / Allan Costa Pinto