Lenda Viva

Atacante Renaldo tinha a fama de não perder pênaltis

Ele tinha fama de não perder pênalti. Mas no futebol não há mal que dure sempre e nem bem que nunca acabe. Por isso, no dia 9 de julho de 2005, um sábado, ele perdeu dois pênaltis numa mesma partida contra o Figueirense, no Pinheirão. Uma falta de sorte que não prejudicou o Paraná Clube que acabou vencendo o adversário por 3 x 0. E assim a partida terminou com um goleiro, Edson Bastos, derrotado embora tenha defendido dois pênaltis e um centroavante vencedor chateado porque errou as duas cobranças. O mais interessante é que o jogador tinha crédito com a torcida e em vez de ser vaiado, saiu de campo aplaudido. Um crédito, entretanto, que se esgotou algum tempo depois quando ele trocou o Tricolor pelo Coritiba. Coisas do futebol.

A cena acima é real e aconteceu com o centroavante Renaldo Lopes da Cruz, baiano de Cotegipe, ídolo do Paraná Clube. Um jogador que teve uma carreira cheia de altos e baixos, mais parecida com uma montanha russa. Uma carreira que do começo ao fim, embora o jogador passasse por diversos clubes no Brasil e no exterior, teve o estado do Paraná como palco em vários de seus momentos. A começar pelo começo no Atlético Paranaense, em 1990, quando o jogador tinha 20 anos, e a terminar pelo fim no modesto Serrano de Prudentópolis, em 2010, quando estava com 40 anos.

O começo da trajetória de Renaldo foi no Guará, time do Distrito Federal, que disputou a Copa São Paulo em 1990. Renaldo se destacou na competição e o dirigente José Carlos Farinhaque, do Atlético Paranaense vislumbrou ali um grande talento. E o trouxe para a Baixada. “Eu cheguei ao Atlético com vinte anos e me profissionalizei em 1992. Arrebentava nos treinos, mas não tinha chance no time de cima. O técnico não colocava embora todo mundo ficasse pedindo para me escalar”, diz Renaldo, que ficou no Rubro-Negro até 1993. Ele reconhece que o Atlético “tinha muito jogador de nome”. E ele esperava alguma cena para ele acontecer e pegar vaga no time titular. E esta cena apareceu nos primeiros meses de 1992.

Muda de Atlético, do Paranaense pro Mineiro

Arquivo
Renaldo foi convocado pra Seleção por Zagallo.

Em 1993, Renaldo deixou o Atlético Paranaense e foi para o Atlético Mineiro. “Tinha muito time querendo me levar. O Palmeiras de Luxemburgo e o Grêmio, mas o Atlético Mineiro ofereceu mais e eu achei que foi minha sorte. Eu cheguei a Belo Horizonte e me encaixei bem no time. Se eu fosse para o futebol paulista, acho que ia encontrar mais dificuldades. Lá sempre foi muito mais competitivo”, diz ele. Além disso, o atacante foi chegando e caindo nas graças da torcida do Galo. “O meu nome ajudou porque lembrava o grande ídolo do Atlético, o Reinaldo. Aquilo foi bacana e tudo foi dando certo”, recorda.

Além disso, chegando a Minas ele encontrou um treinador de atacantes. Que era o Dário José dos Santos, o famoso Dadá Maravilha. “Ele foi um cara muito legal. Me ajudou muito. Dava dicas de cabeceio e eu fui aprimorando. Joguei com muita fera, mas o Dadá era treinador de atacante e me ensinou muito”, diz Renaldo, que era considerado um carrasco do Cruzeiro, maior rival do Galo, pois marcou 7 gols contra o time da Raposa. No Atlético ele jogou com Éder, Taffarel e Toninho Cerezzo. Numa partida, Taffarel foi expulso e Renaldo deixou o ataque para defender o gol do Atlético.

Pelo Atlético-MG, em duas passagens distintas (1993-1996 e 2002), Renaldo marcou oficialmente 79 gols em 183 jogos, com 89 vitórias, 56 derrotas e 38 empates. É considerado o 24.º maior artilheiro da história do clube. Em 1996, Renaldo atravessou o seu melhor momento na carreira. Jogando pelo Galo, ele foi artilheiro do Brasileiro ao lado de Paulo N,unes, ambos com 16 gols. “Fazia muito tempo que o time não tinha o artilheiro da competição. Os últimos tinham sido Dadá e Reinaldo, muitos anos antes. E por isso, eu fiquei marcado na história do clube e com a torcida”, diz o atacante.

A fase era tão boa que Renaldo foi convocado pelo técnico Zagallo para a Seleção Brasileira. E disputou pelo Brasil uma partida amistosa contra Camarões, no dia 13 de novembro de 1996, no Pinheirão, em Curitiba. O Brasil ganhou de 2 x 0, gols de Djalminha e Giovanni. Em alta no futebol brasileiro, Renaldo foi vendido em 1997 para o Deportivo La Coruña para ser o dono da camisa 22 da equipe azul e branca. Ele chegava para ocupar a vaga de um ídolo do time galego, o brasileiro Bebeto e para jogar ao lado de feras como Rivaldo e Mauro Silva.

Baiano com bom faro de gol

O técnico era Geraldo Damasceno. E como muitas vezes acontece, os diretores insistiam para o técnico pelo menos relacionar o jovem atacante para o banco de reservas para os jogos do Atlético no Campeonato Brasileiro de 1992. Na quinta rodada, no dia 2 de fevereiro de 1992, o Rubro-Negro levou um chocolate do Cruzeiro no Mineirão: 4 x 0. Renaldo estava no banco, mas não entrou. No jogo seguinte, no dia 23 de fevereiro, contra o Bahia, na Fonte Nova, ele estava no banco. Jogo duro. O Atlético sai na frente com um gol de Oséas, logo aos sete minutos. Aos 40, Lima Sergipano empatou.

Começa o segundo tempo e Oséas, mais uma vez colocou o Atlético na frente aos 22 minutos. Então Geraldo Damasceno tirou João Carlos para a entrada de Renaldo, que aos 30 minutos tabelou com Carlinhos e recebeu na área para escorar de cabeça e fazer o terceiro gol do time paranaense. O Bahia ainda faria o segundo gol aos 36 do segundo tempo. Mas a vitória estava garantida e foi administrada até o fim. No jogo seguinte, dia 7 de março, contra o Goiás no Pinheirão, o Atlético ganhou por 2 x 0: Oséas e Leomar marcaram. Renaldo já estava no time titular.

O Atlético melhorava na competição. Empatou o jogo seguinte contra o Bragantino em um gol de Oséas, fora de casa. No dia 14 de março enfrentou o Atlético Mineiro no Mineirão. Foi aí que Renaldo começou a despontar: o Rubro-Negro ganhou de 3 x 2, dois gols de Renaldo, o primeiro aos 4 minutos do primeiro tempo e o segundo aos 26 do segundo tempo, que foi o terceiro do time paranaense, quando o jogo estava empatado em dois gols. Naquele Brasileiro, Renaldo ainda marcaria nos empates no Pinheirão contra o Sport de Recife e contra o Guarani. Ele começava a se destacar no Atlético Paranaense, mas os dois gols em Minas chamaram a atenção do Atlético Mineiro.